Soja reage com avanço das negociações entre EUA e China

Na Análise Grão Direto, soja é favorecida por clima e geopolítica, enquanto o milho sofre com oferta e baixa demanda

09.06.2025 | 14:00 (UTC -3)
Mariana Carvalho

A Análise do Especialista Grão Direto desta semana traz novidades sobre as cotações da soja e as expectativas em torno das negociações comerciais entre Estados Unidos e China. A proximidade do novo relatório USDA, preços instáveis e a demanda enfraquecida do milho também são destaque. Confira: 

Como o mercado da soja se comportou?

Negociações entre China e EUA: as tensões comerciais entre Estados Unidos e China continuaram influenciando o mercado. Embora persistam entraves que limitam compras chinesas, uma nova rodada de negociações anunciada no fim da semana trouxe otimismo moderado, refletido em pequenas altas nas cotações de Chicago.

Clima e plantio nos EUA: as condições climáticas no Corn Belt seguiram favoráveis, com 84% da área de soja já semeada e 67% das lavouras avaliadas como boas a excelentes. O bom andamento da safra americana limitou os avanços nos preços, mesmo diante do ambiente geopolítico conturbado.

Ajustes antes do USDA: o mercado ajustou posições ao longo da semana à espera do relatório de oferta e demanda global (WASDE), previsto para 11/06. Em meio à preparação para os novos dados e à leve recuperação dos prêmios, as cotações da soja brasileira se mantiveram estáveis, apesar da volatilidade em Chicago.

Em Chicago, o contrato de soja para julho de 2025 encerrou a US$ 10,58 por bushel, com alta de 1,54% na semana. O contrato para março de 2026 também avançou, fechando a US$ 10,60 por bushel, um ganho de 0,95% no período. O dólar recuou 2,62%, encerrando a semana cotado a R$ 5,57. No mercado físico, os preços subiram levemente na maioria das regiões, acompanhando o cenário positivo dos contratos futuros.

O que esperar do mercado da soja?

Margens apertadas para a safra 2025/26: o produtor deve manter atenção redobrada aos cenários que se desenham para a próxima safra de soja (2025/26). Com o avanço da colheita do milho safrinha, inicia-se o planejamento e a formação de custos da soja em um ambiente de margens pressionadas. A tendência atual indica uma possível manutenção — ou até aumento — da área plantada como forma de diluir custos e tentar garantir rentabilidade. No entanto, essa estratégia depende fortemente do clima e da produtividade para gerar os resultados esperados.

No curto prazo, o cenário segue bastante desafiador em regiões como Mato Grosso, norte de Goiás, Tocantins e todo o Matopiba. Nessas áreas, especialmente entre produtores com terras arrendadas, os atuais níveis de preços e custos já indicam margens negativas. Esse quadro acende um sinal de alerta, pois pode haver desestímulo ao plantio em parte das áreas, o que, por si só, não garante uma reação positiva dos preços no mercado.

Negociações EUA-China: no mercado internacional, os contratos de soja encontram e na Bolsa de Chicago diante da sinalização de uma possível retomada das negociações comerciais entre Estados Unidos e China. Nesta segunda-feira, está previsto um encontro entre Donald Trump e Xi Jinping para tratar de tarifas de importação, o que gera expectativa no mercado.

A China ainda possui posições em aberto para atender à demanda dos meses de agosto e setembro, antes da entrada da nova safra norte-americana. Essa janela cria espaço para compras adicionais no curto prazo, desde que haja avanço nas tratativas comerciais. Diante disso, Chicago ensaia uma recuperação técnica, operando em leve alta, movimento que pode se estender ao longo da semana em caso de progresso nas negociações.

Dólar: o mercado cambial segue reagindo às medidas fiscais anunciadas pelo governo brasileiro, como o fim da isenção de Imposto de Renda para LCI e LCA e o aumento da taxação sobre apostas, que devem ser oficializadas nos próximos dias.

No exterior, as atenções se voltam para a reunião entre EUA e China em Londres, que pode definir os próximos os em relação às tarifas de importação. Esses fatores trazem volatilidade aos mercados e podem influenciar diretamente o câmbio, com impactos indiretos sobre os preços agrícolas no Brasil.

Nesta semana, o mercado da soja deve continuar se movendo mais por causa das notícias lá de fora do que por qualquer mudança aqui dentro. As conversas entre China e Estados Unidos e o sobe e desce do dólar podem mexer com os preços. Por isso, é importante ficar de olho nesses fatores, porque eles devem ditar o ritmo do mercado nos próximos dias.

Como o mercado do milho se comportou?

Safra americana: nos Estados Unidos, o plantio de milho avançou para 93% da área prevista, com 69% das lavouras em condições boas a excelentes. O clima favorável continua sustentando boas expectativas para a safra, embora os preços tenham oscilado durante a semana.

Volatilidade: após sucessivas quedas, os contratos futuros do milho ensaiaram uma recuperação em Chicago, impulsionados por relatos de seca na China e chuvas nos EUA. A B3 acompanhou esse movimento pontualmente, mas o mercado físico no Brasil continuou travado, refletindo um cenário de cautela.

Safrinha 2025: no Brasil, a colheita da segunda safra avançou lentamente, alcançando apenas 0,8% da área — abaixo dos 3,7% do mesmo período em 2024.

Em Chicago, o contrato de milho para julho de 2025 encerrou a US$ 4,42 por bushel, com leve recuo de 0,23% na semana. Na B3, o contrato com vencimento em julho de 2025 subiu 2,52%, encerrando a R$ 64,57 por saca. No mercado físico, porém, predominou a pressão de baixa, com recuos registrados na maior parte das regiões.

O que esperar do mercado do milho?

Demanda pressionada na 2ª safra: as estimativas de produção para o milho segunda safra permanecem elevadas, com projeções variando entre 105 e 108 milhões de toneladas. No entanto, apesar da perspectiva de boa oferta, o lado da demanda segue pressionado.

A indústria de proteína animal continua sendo a principal compradora, mas ainda sente os impactos dos embargos sanitários impostos após o caso isolado de gripe aviária em Montenegro (RS). O Brasil mantém restrições com cerca de 40 países, embora exista a expectativa de que o bloqueio ao estado do Rio Grande do Sul seja retirado já na próxima semana — o que pode reabrir parte da demanda externa.

No mercado doméstico, as usinas de etanol, tradicionalmente atuantes ao longo de todo o ano, vêm adotando uma postura mais cautelosa. Com estoques elevados e margens comprimidas, essas unidades estão comprando milho no curto prazo, em operações conhecidas como “da mão para a boca”. A recente queda nos preços dos combustíveis, influenciada pela política de paridade da Petrobras e pela pressão do petróleo sobre o etanol, reduziu a competitividade do biocombustível. Esse cenário limita o apetite das usinas e impede movimentos mais consistentes de alta nos preços do milho, mesmo com a demanda constante.

Avanço da colheita: a colheita do milho segunda safra começa a ganhar ritmo no Centro-Oeste, apesar de chuvas pontuais que ainda podem causar atrasos localizados. A expectativa é de uma aceleração significativa dos trabalhos de campo nas próximas duas semanas.

Com a entrada do milho no mercado, os preços já mostram sinais de recuo em algumas regiões. No norte do Mato Grosso — em praças como Sinop, Sorriso e Itanhangá — há relatos de negócios abaixo de R$ 40,00 por saca. A pressão decorre da combinação entre aumento da oferta e desalinhamento com a paridade de exportação (PPI).

Enquanto isso, granjas do Sul e Sudeste continuam pagando valores superiores à referência de exportação, o que evidencia uma demanda ainda firme por parte da indústria de proteína animal. Porém, no cenário externo, acordos recentes entre os Estados Unidos e países asiáticos — tradicionais clientes do milho brasileiro — elevam a competitividade no mercado internacional e tendem a pressionar ainda mais os preços de exportação do milho nacional.

Mesmo com as granjas do Sul e Sudeste comprando bem, o mercado do milho segue pressionado. A colheita está ganhando ritmo, tem muito milho entrando no mercado e, ao mesmo tempo, as usinas de etanol estão comprando pouco. Lá fora, o Brasil está enfrentando mais concorrência de outros exportadores, o que também pesa nos preços. Com tudo isso, o produtor poderá esperar uma semana de preços mais baixos e instáveis, sem muito espaço para reação no curto prazo.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

ar grupo whatsapp
Agritechnica 2025